Sobre a crítica

Após a longa reunião da noite, junto de outros confrades, Chico abordou a questão da crítica, respondendo a um dos circunstantes:

— A crítica dos amigos - diz Emmanuel - é a pitada de fermento na massa para que o bolo cresça.

Depois do efeito da frase, aduziu:

— Sempre que criticado, eu vou orar para verificar se é verdade ou não. E quase sempre chego à conclusão de que é verdade: 95% das vezes, eles têm razão, e os 5%...

Concluímos que estes 5% seriam as infundadas.

Depois de significativa pausa, continuou:

— Quando moço, nem sempre eu sabia aceitá-la. Magoava-me, sentia-me aborrecido. Vejamos alguns exemplos: no princípio, entusiasmado com a psicografia, recebia quase todos os espíritos que se aproximavam e queriam se servir de minha faculdade.

Há trinta anos, Nilo Peçanha escreveu, por meu intermédio, uma página sobre o momento político em que vivia o País.

Datilografei-a e enviei-a com carinho à Federação Espírita Brasileira. De volta, pelo correio, recebi uma carta do Presidente da instituição, na época, Dr. Guillon Ribeiro, que também dirigia a revista O Reformador, aconselhando-me a não dispor minha faculdade para assuntos desse gênero; na página nada havia de construtivo. Fiquei aborrecido, mas aceitei a crítica do amigo.

Vendo que o ouvíamos atentamente, prosseguiu:

— Mais tarde, recebi Guerra Junqueiro - as poesias estão no “Parnaso”. Entidade culta, barbas longas, olhos penetrantes; foi para mim motivo de muita alegria.

Deteve-se por uns momentos e encarou-nos novamente:

— Mas vejam vocês: certo dia apareceu em Pedro Leopoldo um senhor muito simpático e respeitável. Ele me trancou num quarto e foi enérgico comigo, expondo sua própria opinião:

— Chico, venho pedir-te para que não mais recebas mensagens desse gênero, seja em prosa ou em versos. O Espiritismo não veio para atacar ninguém, a polêmica nada constrói.

Depois de uma pausa o médium continuou:

— Desapontado, orei. Emmanuel manifestou-se confirmando as palavras do visitante:

— Aquele senhor está com a razão.

Chico tomou outro gole de café e falou:

— Guerra Junqueiro procurou-me novamente para escrever. Então falei franco ao espírito: Atacar os padres não, meu amigo, se você quiser escrever sobre outros assuntos, estou às ordens, mas atacá-los, não.
Ao que ele me respondeu:

— Pois, então, Chico, eu não escrevo. Por enquanto, não mudo de opinião. Não sei escrever sem atacar o clero.

O médium concluiu:

— Vejam vocês como as críticas me serviram. Aquele senhor simpático, que me alertou, nunca mais o vi.

Do Livro "Inesquecível Chico" - Romeu Grini e Gerson Sestini
Capítulo " SOBRE A CRÍTICA "

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Tudo que é seu encontrará uma maneira de chegar até você.”

O Nó do Afeto - Reflexão

Com Deus me deito, com Deus me levanto